Objet Trouvé

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Esta foto, eu encontrei dentro de um livro [que acabei não comprando] em um sebo na cidade de São Paulo. A foto é da Folha [de São Paulo], mas não há informação sobre a data ou o local em que foi tirada. A única coisa que dá para saber é que ela é posterior a 1983, ano de lançamento do caprichos e relaxos.

Aproveito para transcrever um pequeno trecho de uma entrevista, editada pela Biblioteca Pública do Paraná, na coleção Um Escritor na Biblioteca [1985].

'Aí entra uma força maior do que a poesia, que se chama vida. Você tem que montar direito a sua vida para continuar poeta. Conheço inúmeras pessoas, no meu círculo de amizades, que há 10 anos atrás estavam fazendo boa poesia, ou pelo menos um bom verso, e prometiam. Hoje, eles são empresários, lidam com dinheiro, taxa de juros, etc. Se você não cuidar da sua vida, a sua poesia dança. Se quer ser poeta, tem que montar a sua vida a favor do vento. É difícil ser poeta e, ao mesmo tempo, sub-gerente do Bamerindus, por exemplo. Há coisas que, se forem feitas erradas, dançam. Posso contar aqui a grande experiência que tive com a minha aproximação aos músicos da MPB. Eles, sim, são poetas, vivem o tempo todo voltados para isso. Um Milton Nascimento, um Gilberto Gil, um Caetano Veloso, um Chico Buarque de Hollanda, um Gonzaguinha, um Moraes Moreira. A gente sabe que eles têm o tempo todo dedicado a isso. O poeta escrito, no papel, tem que encarar uma disciplina desse tipo. Você tem que montar sua vida direito para que a poesia continue acontecendo. A poesia não é maior que a vida, a poesia está dentro da vida, e não a vida dentro da poesia. Se você cometer um erro a nível existencial, a poesia dança, ela é uma planta muito frágil.'

 

Anti-projeto à Poesia no Brasil - Paulo Leminski

Um dos primeiros textos teóricos publicados pelo poeta Paulo Leminski [na época, Paulo Leminski Filho]. Publicado na revista Convivium, em 1965, o texto ficou de fora dos Ensaios e Anseios Crípticos. Para quem está acostumado com os ensaios deste volume, chama a atenção o 'tom' deste ensaio. Uma pérola: "Hoje, é preciso criar o texto como organismo novo, de cabo a rabo. Dos signos, à apresentação gráfica final. O poeta é ou não é um especialista? Encarregado de um departamento da realidade? Maikovski: há algo na sociedade que só através da poesia se resolve. Que o poeta resolva esse algo com profunda consciência profissional."